Ricardo é um rapaz misterioso, cheio de ideias mórbidas. Achou de levar a namorada para ver o pôr-do-sol no cemitério. Lá chengando, Raquel estranhou a ideias, insultou-o de cretino, louco. Passearam po todo o loca, visitaram alguns túmulos. Mas, para ver o pôr-do-sol teria que ser sobre o túmulo da família de Ricardo, pois lá esva sua prima.
"- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertam todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo - acrescentou apontando as crianças na sua ciranda.Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro.
- Ricardo e suas ideias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr-do-sol mais lindo do mundo.Ele encarou-o um instante. Vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr-do-sol!... Ah, meu Deus... Fabuloso!... Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longa para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma vez! E para quê? Para ver o pôr-do-sol num cemitério..." (p.27)
- Ricardo e suas ideias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr-do-sol mais lindo do mundo.Ele encarou-o um instante. Vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr-do-sol!... Ah, meu Deus... Fabuloso!... Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longa para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma vez! E para quê? Para ver o pôr-do-sol num cemitério..." (p.27)
"- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi esse passeio porque é de graça e muito descente, não pode haver um passeio mais descente, não concorda comigo? Até romântico.Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava." (p.28)
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi esse passeio porque é de graça e muito descente, não pode haver um passeio mais descente, não concorda comigo? Até romântico.Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava." (p.28)
"Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! - ordenou, torcendo o trinco. - Detesto este tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira estúpida!" (p.33)
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! - ordenou, torcendo o trinco. - Detesto este tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira estúpida!" (p.33)
"Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuindo. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar!... - gritou ela, estendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo. - Cretinho! Me dá a chave desta porcaria, vamos!"
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar!... - gritou ela, estendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo. - Cretinho! Me dá a chave desta porcaria, vamos!"
"E, de repente, o grito medonho, inumano:
- NÃO! Durantante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou antento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda
- NÃO! Durantante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou antento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda
Lygia Fagundes Telles
Escritora brasileira
Biografia de Lygia Fagundes Telles:
Lygia Fagundes Telles ( 1923) é uma romancista, contista brasileira, grande representante do modernismo. Suas obras mais conhecidas são "Ciranda de Pedra", Antes do Baile Verde", "As Meninas", e muitos contos, entre eles, "A formiga" e "O pôr-do-sol".
Nasceu em São Paulo, filha de um promotor e delegado de polícia. Mudou-se para o Rio de Janeiro ainda na infância. Começou a se interessar por literatura na adolescência e publicou o seu primeiro livro aos 15 anos, “Porão e Sobrado”. Em 1945, lançou “Praia Viva”, grande sucesso de vendas.
Lygia Fagundes Telles formou-se me Direito e Educação Física, porém, seu interesse maior era mesmo a literatura. Casou-se com o jurista Goffredo Telles Júnior, com quem teve um filho, e depois casou-se com o cineasta Paulo Emílio Salles Gomes.
Publicou uma vasta lista de livros: "Ciranda de Pedra" (1955), "Antes do Baile Verde" (1970), "As Meninas" (1973), entre outros.
Em 1985, tornou-se a terceira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras e faz parte da Academia das Ciências de Lisboa desde 1987. Entre várias premiações, destaca-se o prêmio Internacional de Contos Estrangeiros, na França, pelos livros “Antes do Baile Verde”, o Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras, o Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, o de ficção da Associação Paulista de Críticos de Arte pelo livro “As Meninas”, o Jabuti pelo livro “Invenção e Memória”, de 2001 e o prêmio Camões em 2005.
O estilo de Lygia Fagundes Telles é caracterizado por representar o universo urbano e por explorar de forma intimista, a psicologia feminina.
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